Entre os dias 3 a 5 de Setembro
de 2024, a cidade de Maputo acolheu uma importante Conferência Internacional
sobre Energias Renováveis, organizada pela Universidade Pedagógica de Maputo. O
evento reuniu especialistas nacionais e internacionais, académicos, decisores
políticos e representantes do sector privado, com o objectivo de debater os
avanços, desafios e oportunidades no âmbito da transição energética em
Moçambique.
A Universidade Zambeze
(UniZambeze) esteve representada por dois investigadores de referência:
Fernando Aníbal Chichango e Júlia Gaspar Silote, cuja participação foi marcada por
contribuições relevantes e inovadoras para o debate sobre soluções
sustentáveis, inclusivas e adaptadas ao contexto moçambicano.
Fernando Chichango: Autonomia
térmica e inovação com materiais locais
O investigador Fernando Chichango
apresentou um estudo centrado na eficiência térmica de sistemas solares com
armazenamento de calor, destacando o fenómeno de histerese térmica como uma
vantagem estratégica para garantir autonomia energética em zonas rurais. A sua
comunicação evidenciou o potencial de materiais alternativos de origem local,
como chapa de zinco e tubos de aço galvanizado, na construção de secadores
solares de baixo custo, promovendo a resiliência climática, o acesso a energia
de qualidade e acessível para todos, e a segurança alimentar.
Momento de debate dos conteúdos apresentados
A experiência partilhada
revelou-se promissora: o aquecedor solar de materiais alternativos desenvolvido
demonstrou uma eficiência térmica de 58%, com um período de retorno do
investimento estimado em apenas quatro anos, posicionando-se como uma solução viável
e competitiva face aos sistemas convencionais.
Chichango partilhou ainda
experiências práticas do Centro de Transferência de Tecnologia e
Desenvolvimento Económico, sediado em Bandula, distrito de Manica, onde se
promovem iniciativas de educação ambiental comunitária, produção de álcool para
desinfecção e valorização de tecnologias sustentáveis no meio rural.
Júlia Silote: Inclusão energética
com enfoque no género
A investigadora Júlia Silote
abordou a dimensão social da transição energética, com enfoque na inclusão de
mulheres e jovens nos programas de acesso à energia fora da rede. A sua
apresentação destacou o papel das mini-redes verdes e dos sistemas solares caseiros
(SSC) como ferramentas de empoderamento económico, redução das desigualdades
sociais e promoção da equidade de género, sobretudo em comunidades remotas e
vulneráveis.
Silote defendeu a necessidade de
modelos de financiamento mais inclusivos e acessíveis, como o sistema PAYGO, e
apelou ao reforço da formação técnica de mulheres, de modo a garantir uma
participação activa e equitativa no sector energético, contribuindo para uma
transição energética verdadeiramente justa.
Contributo académico para uma
transição energética justa e sustentável
A participação dos investigadores
da UniZambeze nesta conferência reforça o papel estratégico das instituições de
ensino superior na produção de conhecimento aplicado, na transferência de
tecnologia e na formulação de políticas públicas baseadas em evidência
científica.
As suas intervenções alinham-se
com os pilares da Estratégia de Transição Energética (ETE) de Moçambique, que
visa alcançar 100% de electrificação até 2030, com 85% de energias renováveis
no mix energético até 2050.
A conferência constituiu
igualmente uma plataforma para o fortalecimento de redes de colaboração entre
universidades, governo, sector privado e parceiros de cooperação, num momento
em que Moçambique se posiciona como plataforma regional de produção e exportação
de energia limpa.